Para
muitos, um dos maiores westerns de todos os tempos - e a união
de três mitos do gênero
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"O Homem
que Matou o Fascínora" é prova cabal do talento
de um dos maiores diretores da história do cinema - e não
apenas do cinema americano, do qual ele é o representante
máximo. John Ford realizou mais de 150 filmes, sendo que
raramente ele deixou de pisar em território americano e na
própria essência do que ele considerava ser americano.
Aqui, ele constrói mais do que um grande faroeste - conta
uma história que mostra que em toda a história existem
heróis anônimos cuja existência não entra
nos livros de história, e aqueles que, por melhor que sejam,
acabam construindo sua reputação em cima de atos de
outras pessoas.
James
Stewart é Ransem Stoddard, um pacato advogado que se muda
para o oeste para exercer a advocacia. Antes mesmo de chegar ao
seu destino, a pequena cidade de Shinbone, sua carruagem é
atacada por foras-da-lei. Em sua ignorância de não
reconhecer a maldade dos homens numa terra sem-lei, acaba sendo
agredido por eles e chicoteado por seu líder, o temido Liberty
Valance, interpretado por Lee Marvin - sem dúvida, um dos
melhores vilões de todos os faroestes. Ao ser socorrido e
levado a Shinbone, ele ouve da boca do durão Tom Tonniphon
(John Wayne) a síntese da terra que escolheu para morar:
"Suas leis podem ser importantes para você, mas aqui,
cada homem faz suas próprias leis".
A
adaptação de Stoddard é tortuosa, mas ele se
recusa a acreditar que não possa haver lei e ordem em qualquer
lugar. Seus atos e sua ingenuidade conquistam o coração
de Hallie ( Vera Miles ), a mulher que Tom ama e que todos acreditam
que um dia casará com ele. Ao mesmo tempo, ele se enganja
na campanha que procura transformar o território em Estado
e pregar uma melhor distribuição das terras dentro
da lei, o que os poderosos donos de terra certamente não
aceitam. A situação chega num limite e o mesmo Liberty
Valance, contratado pelos fazendeiros, ataca o dono do jornal Shinbone
Star que representaria o território no Congresso ao lado
de Stoddard e chama o advogado para um duelo, onde somente um dos
dois poderá sair vivo.
O filme é
contado na forma de lembranças de um já velho Senador
Stoddard, casado com Hallie, contadas ao editor e a um repórter
do Shinbone Star anos depois, quando ele retorna à cidade,
já famoso após ser eleitos três vezes governador
e estar em seu segundo mandato no senado. Sua fama maior, no entanto,
é a de ser "o homem que matou Liberty Valance"
( o título original ) sem que, no entanto, isso espelhe a
realidade do que realmente aconteceu. seu retorno áquela
terra anos depois para o funeral de Tom Tonniphon acaba lhe trazendo
de volta a lembrança e fazendo com que ele contasse que quem
realmente matou Valance foi o desconhecido homem em cujo funeral
estavam presentes apenas o velho ex-xerife Lick e o criado, Pompey.
O
filme tem um tom de amargura. Traz momentos que somente poderiam
sair de um homem como Ford. Ele prega a justiça ao estilo
americano sem deixar de exaltar que no antigo oeste eram a coragem
e as balas que resolviam tudo. A coragem nunca faltou a Stoddard,
mas as balas teriam de sair das mãos de Tom. O amargo é
ver que ao verdadeiro herói coube apenas o esquecimento.
Um herói que tem suas botas roubadas após sua morte.
Que queima seu rancho ao perder a mulher que ama e, ainda assim,
força Stoddard a aceitar a candidatura ao Congresso. Em síntese,
o herói Fordiano, que abdica de si mesmo em prol do bem de
todos. O herói relegado a uma cova esquecida e com seus atos
de coragem encobertos pela sombra de outro homem.
"Lá
está uma bela flor" - diz Hallie, ao voltar ao rancho
destruído de Tom, anos depois. Uma flor de cactus semelhante
à que Tom um dia lhe deu e que agora decora seu caixão.
Ford deixa sublinhado claramente que o amor entre Hallie e Tom nunca
morreu. A reação de Stoddard quando Hallie lhe diz
que ela colocou a flor no caixão diz que ele também
sabe disso - e talvez sempre soubesse. A confirmação
vem quando ela lhe diz que "Minhas raízes estão
aqui. Acho que meu coração está aqui".
Não existe,
na verdade, um herói em "O Homem que Matou o Facínora".
Tanto Tom, que mata o vilão e aceita o esquecimento, quanto
Stoddard, que recebe o crédito e carrega-o como um fardo,
são, cada qual à sua maneira, os heróis deste
conto magistral de Ford. A frase do editor do Shinbone Star interpretado
por Edmond O'Brien após ouvir a verdade de Stoddard e rasgar
as anotações da história dizem tudo. "Não
vai usar a história?" pergunta Stoddard. "Aqui
é o oeste, Sr. Quando a lenda torna-se realidade, imprime-se
a lenda". A frase norteou a carreira do diretor, marcou o filme
e traz, como nenhuma outra, a mensagem e a marca de genialidade
de um dos maiores filmes do gênero em todos os tempos.
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O
HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA (
The Man Who Shot Liberty Valance - 19 - EUA) Direção
de John Ford, com John Wayne, James Stewart, Lee Marvin
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Original Release (.mov)
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