2001
- UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO
( 2001 - A Space Odissey, Stanley Kubrick, 1968)
Na mais clássica transformação da história
do cinema o homem avança da descoberta de sua inteligência
em sua aurora até seus primeiros passos no imenso oceano
cósmico. Mais do que uma simples aventura pelo imponderável
de seu futuro, a raça humana tem nessa odisséia
um desafio: encontrar explicações para sua própria
existência e evolução. O monolito negro
que acompanha nossos passos desde o começo dos tempos
é um mistério que pode ser a resposta ou a dúvida
maior. Obra-prima muito além de seu tempo, o clássico
lançado por Kubrick já era profético
e ainda hoje é revolucionário. Traz metáforas
por trás de suas imagens trabalhadas e mensagens: o
computador HAL é um anagrama ( é composto pelas
letras anteriores, no alfabeto, a IBM ), criticando a dependência
cada vez maior do homem pelas máquinas. Feito para
provocar mais perguntas do que respostas, Kubrick conta a
história do gênio Arthur Clarke num ritmo lento,
porém sempre belíssimo, apoiado pelo ótimo
aproveitamento do Danúbio Azul, de Strauss e do poema
sinfônico Also Sprach Zarathustra ( Assim Falou Zarathustra
) e quem entende o significado de suas imagens curva-se diante
do mestre e sua obra-prima.
BLADE
RUNNER - O CAÇADOR DE ANDRÓIDES
(Blade Runner, Ridley Scott, 1982)
O futuro do escrito Phillip
K. Dick é lúgubre, escuro. Um mistério.
Ridley Scott transpôs para a tela esse mistério
e formou um dos mais impressionantes painéis da sociedade
do futuro. Uma Los Angeles futurista onde impera a chuva ácida
constante e a superpopulação, criando um clima
que resgata a atmosfera dos antigos policiais noir num ambiente
inusitado. É nessa atmosfera deprimente que o detetive
Rick Deckard vai ter que cumprir sua missão. mas por
que é tão doloroso para ele caçar e exterminar
andróides fugitivos com tempo de vida limitado? A versão
do diretor, lançada dez anos depois, com alguns cortes
e uma pequena cena a mais (e essencial ) explica tudo. Mas
em ambas permanece a forte imagem de Rutger Hauer, que após
encurralar HarrisonFord, diz sobre uma fina chuva. "Vi
naves de ataque em chamas nas fronteiras de Orion. Vi a luz
do farol cintilar na Comporta Tannhauser. Todos esses momentos
se perderão como lágrimas na chuva. Hora de
morrer". Tudo o que lhes foi negado era a dádiva
de viver e isso provoca compaixão.
O
IMPÉRIO CONTRA-ATACA
( The Empire Strikes Back, Irvin Kershner, 1980)
Os maiores valores da mais amada
saga do cinema estão presentes nesta fantástica
continuação de Guerra nas Estrelas. O filme
do meio da trilogia é uma notável combinação
de drama e aventura como poucas vezes o cinema viu igual.
Em nenhum outro filme da série seus personagens mágicos
tiveram os conflitos, dúvidas e emoções
que têm aqui. Ao contrário dos demais, parecem
reais, e dão credibilidade ao fantástico épico
imaginado por George Lucas, um verdadeiro drama até
shakeaspeariano - por mais que ainda existam pessoas que insistem
em ver nos filmes apenas um passatempo passageiro - Não
bastasse, os fantásticos efeitos visuais o tornaram
um passatempo sem precedentes
ET
- O EXTRATERRESTRE
(ET, O Extraterrestre, Steven Spielberg, 1982)
As maiores alegrias da vida
de Spielberg vieram com esse filme, imaginado nas areias da
Tunísia onde ele filmava "Os Caçadores
da Arca Perdida". Escrito por Melissa Mathison, mulher
de Harrison Ford, se tornou o mais amado filme da história
do cinema, durante dez anos recordista absoluto em bilheteria
e uma das maiores injustiças do Oscar. Nele, Spielberg
derramou todas suas neuroses de infância: o fascínio
por extraterrestres, a ausência do pai, a cidadezinha
do interior, e transformou um feio extraterrestre num ser
cativante e emocionante. Passagens antológicas orquestradas
pela música clássica de John Williams leva-nos
a embarcar numa jornada mágica até a apoteótica
cena final, e deixa na lembrança a mensagem do extraterrestre:
"Ill be right here!". Não á
toa, Spielberg passou a ser chamado de "Mago de Hollywood":
seus filmes são magia pura.
ALIEN,
O OITAVO PASSAGEIRO
(Alien, Ridley Scott, 1979)
A Nostromo é uma espaçonave
cargueira que está voltando para a Terra após
uma missão de vários meses. Seus sete tripulantes
não vêem a hora de chegarem em casa, mas um pedido
de socorro vindo de um planeta desabitado muda o rumo de sua
viagem e de suas vidas. O mais clássico exemplo que
inaugurou o estilo ficção - terror, deu uma
visão totalmente nova à cenografia espacial,
acabando com o visual clean de outras produções
e um tiro sobre vários postulados da ficção
científica. Nada de bons sentimentos. O extraterrestre
de Alien é horrendo e mata sem piedade, num clima angustiante
crescente. Que o digam Tom Skerrit, depredado nos tubos de
ventilação ou John Hurt, com a barriga arrebentada
no mais horrendo nascimento já visto no cinema.
CONTATOS
IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU
(Close Encounters of the Third Kind, Steven Spielberg, 1977)
Spielberg revolucionou o cinema
em diversos gêneros. Sua contribuição
para a ficção começou com este clássico
que, visto hoje, soa mais belo e misterioso do que nunca.
Aviões desaparecidos na 2ª guerra ressurgem, navios
aparecem no meio do deserto. Uma melodia harmoniosa vinda
dos céus, entoada por uma tribo africana. Estranhos
eventos parecem relacionados á chegada de uma nave
espacial á Terra e pessoas do mundo inteiro se sentem
atraídas para presenciá-lo. A obsessão
de um homem nos leva à inesquecível cena final
na Torre do Diabo, um dos momentos de hoje e sempre do cinema,
embalado pelo som de "When you Wish Upon a Star",
de Pinóquio, a música preferida do diretor.
METRÓPOLIS
( Metropolis, Fritz Lang, 1926 )
Assim como em outro filme posterior
seu, também clássico, a obra-prima "M -
O Vampiro de Dusseldorf", Lang usa o cenário como
elemento vivo em Metrópolis. Se em "M" ele
servia para transmitir o clima de opressão e insanidade,
aqui os imensos arranha céus e as enormes máquinas
que extenuam e sugam a vida dos funcionários transmitem
a idéia da falta de humanidade. Poucos filmes no cinema
foram tão proféticos - e desde então
ver o futuro com olhos pessimistas passou a ser uma espécie
de sub-divisão dentro do próprio gênero.
E, em meio a tudo isso, o que poderia ser mais sarcástico
do que a idéia de se fazer um robô perfeito...
a partir de um ser humano como modelo?
LARANJA
MECÂNICA
( Clockwork Orange, Stanley Kubrick, 1974 )
Alex é uma ferida na
sociedade. Sua visão de prazer alia-se á destruição
- de outros e de si mesmo. Encontra alívio quebrando,
matando e estuprando, e faz da violência sua companheira
no dia a dia. Mas será ele o grande vilão de
"Laranja Mecânica"? Se existe um, é
o próprio sistema que o criou que se revela no final
como um monstro pior do que sua criação. Existe
castigo maior que aquele inflingido em Alex? Ser obrigado
a assistir a suas próprias matanças e atos insanos?
Kubrick não era um diretor que se rendia a qualquer
argumento. Não resistiu, porém, ao polêmico
romance de Anthony Burgess. Chamá-lo de incitador da
violência é ridículo - é como ser
o sistema olhando-se no espelho e criticando a própria
aparência.
GUERRA
NAS ESTRELAS
( Star Wars, George Lucas, 1977 )
O filme divisor de águas,
não apenas do gênero, mas de todo o cinema moderno.
A partir de "Star Wars" firmou-se um novo padrão
de entretenimento de massas e de concepção de
efeitos visuais. Em síntese, um filme perfeito, uma
saga de nove filmes, do qual a trilogia iniciada por este
é apenas a do meio. Personagens eternos e cativantes,
um vilão inesquecível, trilha sonora perfeita,
futuros astros, fenômeno de bilheteria, fenômeno
cultural, vencedor de 07 Oscars. Uma aventura mágica
e sedutora, essencial, referência para toda uma época.
MATRIX
( Matrix, Larry & Andy Wachowsky, 1999)
Eis um caldeirão cultural
que consegue a proeza de criar uma nova mitologia em plena
virada do século. os irmãos Wachowsky mesclaram
uma série de citações e inspirações
para fazer os heróis do novo milênio. Para uma
geração carente de heróis num mundo moderno
- já que Super Homem e Batman definitivamente não
fazem parte do imaginário da nova geração
- surge Neo, Morpheus, Trinity e outros. À parte a
ação espetacular e os efeitos miraculosos que
conquistaram os sedentos por movimento os irmãos diretores
foram inserindo timidamente os elementos para criarem a dita
mitologia. Quem, afinal, não está louco para
conhecer a última cidade humana na Terra? isso tudo
virá ainda nas duas continuações, mas
MATRIX, o filme, tem qualidades suficientes para debates prolongados
sucessivas revisões.
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