3. Os Pioneiros da Arte no Cinema

Em 1905 surge a bíblia do show business: a Variety circula pela primeira vez e só enfrentaria forte concorrência a partir de 1930, com o Hollywood Reporter. "A Vida de João Cândido", de 1910, é o primeiro filme nacional a trazer um personagem negro, um marinheiro que liderou a Revolta da Chibata, no Rio. Seu autor, porém, é desconhecido. Os rudimentos da narração e da montagem artística são desenvolvidos pelo americano Edwin Porter, em 1902, em Vida de um bombeiro americano, e consolidados, um ano mais tarde, com O grande roubo do trem, o primeiro grande clássico do cinema americano. O filme inaugura o western e marca o começo da indústria cinematográfica. Despontam, então, dois grandes nomes dos primórdios do cinema: Georges Méliès e David Griffith.

Diretor, ator, produtor, fotógrafo e figurinista, George Meliès (1861 - 1938 ) é considerado o pai da arte do cinema. Nasce na França e passa parte da juventude desenvolvendo números de mágica e truques de ilusionismo. Depois de assistir à primeira apresentação dos Lumière, decide-se pelo cinema. Pioneiro na utilização de figurinos, atores, cenários e maquiagens, opõe-se ao estilo documentarista. Realiza os primeiros filmes de ficção – Viagem à lua e A conquista do pólo (1902) – e desenvolve diversas técnicas: fusão, exposição múltipla, uso de maquetes e truques ópticos, precursores dos efeitos especiais.

Nascido nos Estados Unidos, David Griffith é considerado o criador da linguagem cinematográfica. Antes de chegar ao cinema, trabalha como jornalista e balconista em lojas e livrarias. Admirador de Edgar Allan Poe, também escreve poesias. No cinema, é o primeiro a utilizar dramaticamente o close, a montagem paralela, o suspense e os movimentos de câmera. Na visão de Martin Scorsese, D.W. Griffith é o "inventor da gramática cinematográfica", o pai de todos os cineastas. Em 1915 fez aquele que talvez seja o mais importante filme americano de todos os tempos, "O Nascimento de Uma Nação" com um tema ousado, elevando a Ku Klux Klan e com um ardor racista impossível de se aceitar nos dias atuais. Mas foi o primeiro grande épico do cinema, e preparou também as bases para o lançamento, em 1916, de "Intolerância", seu melhor filme, que nasceu inspirado em "Cabíria" de Pastrone, dois anos antes. "Intolerância" foi criticado na sua época: cenários em tamanho natural, orçamento gigante, histórias paralelas que se fundem. Quatro históiras passadas em épocas diferentes mostrando a intolerância do espírito humano, seja na época moderna, seja na Idade Média ou nos tempos de Cristo. Na opinião de Pauline Kael,"a origem das grandes tradições da tela, emoção visionária do poder do cinema de combinar música, dança, teatro, narrativa, pintura e fotografia - tudo junto, combinando extraordinários trechos líricos com realismo e detalhes psicológicos."

1910 - Surge a Terra dos sonhos

Com o recesso do cinema europeu durante a 1a Guerra Mundial, a produção de filmes concentra-se em Hollywood, na Califórnia, onde surgem os primeiros grandes estúdios. Em 1912, Mack Sennett, o maior produtor de comédias do cinema mudo, que descobriu Charles Chaplin e Buster Keaton, instala a sua Keystone Company. No mesmo ano, surge a Famous Players, de Adolph Zuckor, que se funde à Jesse L. Lasky Feature Players em 1916, dando origem à Paramount Pictures e, em 1915, a Fox Films Corporation. Em 1917, é criada a UFA, Universum Film, por muitos anos o mais famoso estúdio alemão. Para enfrentar os altos salários e custos de produção, exibidores e distribuidores reúnem-se em conglomerados autônomos, como a United Artists, fundada em 1919 por Charles Chaplin, Mary Pickford, DW Griffith e Douglas Fairbanks. - "Os Loucos tomam conta do hospício", disse um produtor. - The Sinking Of the Lusitania de Winsor McCay, de 1918, é provavelmente o primeiro longa de animação.A década de 20 consolida a indústria cinematográfica americana e os grandes gêneros – western, policial,musical (após a transposição do som para o cinema ) e, principalmente, a comédia –, todos ligados diretamente ao estrelismo. O desenvolvimento dos grandes estúdios proporciona o surgimento do star system, o sistema de "fabricação" de estrelas que encantam as platéias. Mary Pickford, a "noivinha da América", Theda Bara, Tom Mix, Douglas Fairbanks e Rodolfo Valentino são alguns dos nomes mais expressivos. Com o êxito alcançado, os filmes passam dos 20 minutos iniciais a, pelo menos, 90 minutos de projeção. O ídolo é chamado a encarnar papéis fixos e repetir atuações que o tenham consagrado, como Rosita, de 1923, com Mary Pickford. Tom Mix destaca-se como o primeiro grande cowboy americano do cinema, e o primeiro herói do western. Rodolfo Valentino torna-se o primeiro galã a atrair platéias femininas em todo o mundo, encarnando personagens aventurescos e conquistadores, como em "O Sheik". Douglas Fairbanks torna-se o primeiro herói dos clássicos filmes de ação, dispensando o uso de dublês para as ousadas cenas de perigo de seus filmes. Em 1921, são lançados no mercado americano 854 filmes, recorde jamais igualado. Em 1922, surge a Motion Picture Producers and Distributors of America, que daria origem à Motion Picture Association of America, o principal instrumento de Lobby do cinema americano. 1923 marca o surgimento da Warner Brothers, fundada por Harry, Albert, Jack e Sam Warner, e a Disney Brothers Studio fundada por Walt e Roy Disney. A Metro Goldwin Mayer ( MGM) surge em 1924, criada pela fusão da Metro Pictures, de Marcus Loew e Nicholas Schenk, a Goldwyn Pictures e o produtor Louis B. Mayer e torna-se o mais famoso estúdio dos anos 30. Ainda em 24, nasce a Columbia Pictures, da união entre os irmãos Harry e Jack Cohn e Joseph Brandt.Já no começo, a indústria do cinema começa a mostrar a rebeldia dos seus astros contra o esquema dos grandes produtores. A fundação da United Artists e a ascensão de Chaplin como dono de seus filmes são os primeiros exemplos disso.


Criada por Fábio Luis Rockenbach - 2001

OS LOUCOS

Da esquerda para a direita: Douglas Fairbanks, Mary Pickford, Charles Chaplin e DW Griffith. O quarteto fundou a United Artists, o primeiro grito de liberdade dos atores em relação ao sistema de controle dos estúdios. Um produtor mencionou na época:"Os Loucos tomam conta do Hospício". Esses loucos foram essenciais à evolução do cinema e do próprio sistema de produção em Hollywood, mas seu sonho não durou muito. No final, os estúdios permaneceram no comando. A única evolução é que os atores com o tempo deixaram de ser propriedades dos estúdios e passaram a trabalhar por contratos individuais. Até lá, ainda demorou um longo tempo...