5. Um Ano de Ouro e uma Década Inesquecível

 

O ano de 39 é particularmente especial, considerado o grande ano de ouro do cinema. John Ford lança "No Tempo das Diligências", o primeiro grande western de um diretor que entraria para a história como o mais americano dos diretores, e o rei deste gênero. Lançava também ao estrelato John Wayne, como Ringo, o misterioso pistoleiro que viaja numa diligência condenada a ser atacada por índios no seu longo percurso. Ford despiu seus personagens de lições de moral. O herói de seu filme é um homem procurado, e a figura feminina maisimportante é uma prostitua com um filho que embarca na diligência. Uma cena é especial: de cima, Ford mostra a diligência rumando sozinha para a imensidão do oeste, e a cavalaria se dividindo e indo para o lado oposto. A partir daquele momento, todos sabiam que ela estava entregue à própria sorte

Victor Fleming assina duas obras de peso neste mesmo ano, dois dos maiores clássicos do cinema: O Mágico de Oz que levou Judy Garland ao estrelato e se firmou como um dos mais conhecidos clássicos musicais e infantis de todo o cinema, e aquele que talvez seja o maior dos filmes do próprio cinema, ...E O Vento Levou. Por trás da realização deste último diversas lendas alimentadas anos a fio.

...E O Vento Levou consagrou Clarck Gable, o "rei" dos anos 30 no cinema, e tornou conhecida Vivien Leigh. Dizem que durante os testes para encontrar a Scarlett O'Hara do best seller de Margaret Mitchell, comprado pelo famoso produtor David O'Selznick, centenas de atrizes e desconhecidas foram testadas. Selznick, produtor que interferia a fundo nos filmes, decidiu começar as filmagens sem ter encontrado sua heroína ( Paulette Godard foi uma das famosas atrizes rejeitadas por Sleznick ). Enquanto filmava o célebre incêndio de Atlanta, Leigh chegou ao estúdio acompanhada do irmão de Selznick, que assim que a viu declarou ter encontrado sua Scarlett. Vários foram os diretores ( George Cuckor foi demitido e Sam Wood teve um colapso durante as filmagens ) e o próprio Selznick dirigiu algumas cenas, até contratar Fleming que levou o filme até o final. Nada que impedisse o filme de se tornar um fenômeno, talvez a maior bilheteria da história do cinema, contando-se a desvalorização do dólar e o mais visto da história do cinema, mantendo uma aura que fez com que se tornasse lendário.

Outra produções como Ninotchka ( "Garbo Ri", dizia o cartaz, suficiente para atrair público. A comédia de Ernst Lubitch mostrou pela primeira vez Greta Garbo sorrindo e dando risadas no cinema ), Gunga Din, Goodbye Mr. Chips e O Morro dos Ventos Uivantes com Olivia de Havilland e Laurence Olivier, colaboraram para tornar 39 inesquecível. Já naquela época, o gênero capa-espada reinava entre os filmes de ação. O trio Michael Curtiz ( diretor ), Errol Flynn e Olivia de Havilland fez, em 1935, Capitão Blood, e em 1938, As Aventuras de Robin Hood, exemplos magníficos do gênero.

Os efeitos visuais começam a dar suas primeiras contribuições de qualidade à evolução técnica no cinema, com O Mundo Perdido ( 1931 ) e principalmente King Kong ( 1933 ) ,de Merian C. Cooper, este último um dos melhores filmes da história de cinema.

O Musical surge em Hollywood na década de 30 e se caracteriza por roteiros musicais que mesclam danças, cantos e músicas. No início dos filmes falados, os musicais sofrem grande influência do teatro. O filme que definitivamente estabelece o gênero é Broadway melody, em 1929, de Harry Beaumont. Seu êxito provoca uma onda de filmes que rapidamente se tornam populares, como Caçadoras de ouro, A canção do deserto e O rei do jazz. Voando para o Rio, de 1933, projeta Fred Astaire e Ginger Rogers. Gene Kelly (Diário de um homem casado), Rita Hayworth (O protegido do papai) e Judy Garland (O mágico de Oz) também ganham notoriedade.

A Comédia, gênero consolidado na década de 20, a comédia incorpora novos nomes. Os Irmãos Marx brilham com seus diálogos absurdos e graças de picadeiro em No hotel da fuzarca, Diabo a quatro e Uma noite na ópera. Os atores Oliver Hardy e Stan Laurel notabilizam a dupla O Gordo e o Magro em Fra Diavolo e Filhos do deserto. W.C. Fields, que surgiu no cinema por volta de 1915, destaca-se na década de 30, com No tempo do onça e A filha do saltimbanco.

O prestígio de Chaplin mantém-se em filmes como Luzes da cidade e Tempos modernos, que adquirem dimensão política.Mesmo com o advento do som, Chaplin se recusa a usá-lo: "se o vagabundo falar, ele morre!" A combinação de ousadias eróticas e certa dose de crítica do cotidiano resulta na comédia de costumes, que domina o cinema americano. O alemão Ernst Lubitsch desenvolve o estilo em filmes como Ladrão de alcova e Ninotchka, este com Greta Garbo. Outros representantes: George Cukor (Uma hora contigo), William Wellman (Nada é sagrado), Leo McCarey (Cupido é moleque travesso), Howard Hawks (Levada da breca) e um dos maiores nomes das décadas de 30/50, o diretor Frank Capra.

Frank Capra (1897-1991) nasce na Sicília e emigra para os Estados Unidos, em 1903. Na juventude estuda química e matemática. Começa no cinema como argumentista dos cômicos Laurel e Hardy (O Gordo e o Magro). Na direção, desenvolve uma obra de conteúdo social, otimista e confiante na democracia americana, que acerta em cheio, nos anos difíceis da Depressão. Aconteceu naquela noite, de 1934, ganha os principais Oscars do ano:filme, roteiro, diretor, ator e atriz. Apenas dois filmes igualariam o feito mais tarde: Um Estranho no Ninho, de 74, e O Silêncio dos Inocentes, de 91.Do mundo nada se leva (1938), A mulher faz o homem (1939) e Adorável vagabundo (1941) são seus principais sucessos.

Gênero específico americano, o western (faroeste) explora marcos históricos, como a Conquista do Oeste, a Guerra de Secessão e o combate contra os índios. Cenas de ação e aventura envolvem caubóis e xerifes. Em 1932 inicia-se uma grande produção de westerns, onde o caubói é também cantor, como Gene Autry e Roy Rogers. Em 1935, Cecil B. de Mille produz Jornadas heróicas. Em 1939, com No tempo das diligências, John Ford abre o ciclo de produções com grandes diretores e astros, onde se destacam também King Vidor (Duelo ao sol) e Henry King (Jesse James).

John Ford (1895-1973), diretor americano nascido no Maine, filho de irlandeses, é um dos cineastas mais premiados do mundo. Depois de se formar no ensino médio, vai para Hollywood, em 1914. Começa trabalhando como ator, contra-regra e assistente nos filmes de seu irmão, Francis Ford, diretor e roteirista da Universal. Em 1917 estréia na direção, fazendo pequenos westerns. Seus filmes possuem orçamentos modestos, poucos atores, e alternam dramas com trechos de comédias. Sua colaboração ao gênero se torna inestimável a partir dos anos 40.

São várias as tendências dos filmes de terror, que têm em comum o desequilíbrio e a transgressão do real. Em 1931, Drácula e Frankenstein entram em cena. Um ano depois, é a vez de O médico e o monstro, baseado no romance de Robert Louis Stevenson.

O filme policial surge na França, no começo do século, mas é nos Estados Unidos, a partir da década de 30, que o gênero se firma. Cenários sombrios e escuros, neblina, cenas de crimes e violência envolvem detetives, policiais, aristocratas e belas mulheres. O filme noir – como os franceses o denominaram – logo se impõe como um grande gênero. Destacam-se Howard Hawks (Scarface) e John Huston (Relíquia macabra).


Criada por Fábio Luis Rockenbach - 2001