8. Nos Anos 60, a Rebeldia Prega um Novo Sistema

Já no final da década de 50 e início dos anos 60, o cinema italiano inclina-se para a investigação psicológica, retratando uma sociedade em crise: Michelangelo Antonioni e Federico Fellini fazem reflexões morais sobre a condição humana. Luchino Visconti, em Rocco e seus irmãos, mostra a vida dos imigrantes do sul da Itália. Pier Paolo Pasolini (Teorema) discute a sexualidade como meio de autoconhecimento e transformação.

Michelangelo Antonioni (1912-) nasce em Ferrara, na Itália, forma-se em economia e comércio em Bolonha, mas prefere exercer o jornalismo. Trabalha como crítico de cinema, assistente de direção de Marcel Carné e roteirista de Federico Fellini. A solidão é um dos temas centrais de sua obra. São famosos os seus planos longos e fixos, demonstrando domínio total da imagem. Sua trilogia da incomunicabilidade – A aventura (1959), A noite (1960) e O eclipse (1961) – obtém limitado sucesso comercial. O reconhecimento do público vem com Blow-up, em 1967, filmado em Londres. Nos EUA, dirige Zabriskie point (1970), no qual faz uma autópsia da sociedade de consumo norte-americana, e O passageiro (1975). Seu último filme é Identificação de uma mulher (1982). Federico Fellini (1920-1993), nasce em Rimini, Itália, e trabalha como jornalista e caricaturista. Começa no cinema aos 19 anos, como roteirista de comédias. Considerado o maior gênio do cinema contemporâneo, Fellini cria em suas obras um universo extremamente rico e complexo. Busca inspiração em suas experiências pessoais, desenvolvendo um estilo fantástico e surreal. Em 1943 casa-se com a atriz Giulietta Masina, com quem fica até a morte. Entre suas obras-primas estão Os boas-vidas (1953) e Amarcord (1973), que retratam sua juventude, As noites de Cabíria (1957), com Giulietta Masina, A doce vida (1960), um perfil desiludido da burguesia italiana, Fellini oito e meio (1963), uma grande autobiografia, e E la nave va (1985), um de seus últimos sucessos.

Na França, até o final da década de 50, persiste um cinema tradicional e acadêmico. Claude Autant-Lara (Adúltera), André Cayatte (Somos todos assassinos) e Henri Clouzot (O salário do medo) fazem filmes politizados e pessimistas. Os católicos Robert Bresson (Um condenado à morte escapou) e Jean Delannoy (Deus necessita de homens) reagem ao materialismo existencialista e Jacques Tati renova a comédia com Meu tio. Em 1957, um grupo de jovens provenientes da crítica reage contra o academicismo do cinema francês e inicia um movimento que renova a linguagem cinematográfica, a nouvelle vague. Nouvelle vague – Seus integrantes – críticos do Cahiers du Cinéma – propõem um cinema de autor, criticam as produções comerciais francesas e realizam obras de baixo custo em que rejeitam o cinema de estúdio e as regras narrativas. Diferentemente do movimento neo-realista, a nouvelle vague volta-se menos para a situação social e política do país e se interessa mais pelas questões existenciais de seus personagens. Seus representantes, Jean-Luc Godard (Acossado), François Truffaut (Os incompreendidos), Claude Chabrol (Os primos), Alain Resnais (Hiroshima, meu amor ), Louis Malle (Trinta anos esta noite) e Agnès Varda (Cleo das 5 às 7) seguirão, no futuro, caminhos individuais divergentes. Jean-Luc Godard (1930- ), diretor e crítico francês, nasce em Paris, ondeestuda etnologia e jornalismo. Um dos fundadores da nouvelle vague, é também um dos formuladores da "política de autor", em que o diretor é considerado o único autor na produção de uma fita. Como crítico, colabora no Cahiers du Cinéma e outras revistas especializadas. Seu primeiro longa-metragem é Acossado (1959). Entre suas obras, merecem destaque O pequeno soldado (1960), Uma mulher casada (1964) e A chinesa (1967). Je vous salue Marie, de 1985, é considerado herege pelo papa João Paulo II. Em 1993, lança Infelizmente para mim. François Truffaut (1932-1984), diretor francês, participa do Cahiers du Cinéma e da política de autores. Considerado o poeta da nouvelle vague, faz críticas de cinema durante vários anos e escreve livros sobre o tema, dos quais o principal é sobre a série de entrevistas que realizou com Alfred Hitchcock, seu cineasta preferido. Foi assistente de Rosselini e escreveu o roteiro de Acossado, de Godard. Dentro de sua produção ganham destaque os filmes Fareinheit 451 (1966), A noiva estava de preto (1967) e A história de Adele H (1975).

Nos anos 60, Stanley Kubrick (O Dr. Fantástico), John Frankenheimer (Sob o domínio do mal) e Sidney Pollack (A noite dos desesperados) continuam voltados para a crítica social e os problemas humanos. Antes da crítica à guerra fria feita em Dr. Fantástico, Kubrick aceita o convite de Kirk Douglas e dirige Spartacus ( 1960 ), um dos grandes filmes de aventura do cinema. Além da invocar o tema da luta de classes presente no livro de Howard Fast, Douglas e Kubrick têm na equipe Dalton Trumbo, um dos profissionais da Lista negra elaborada nos anos 50. Em 1962, David Lean assina o épico Lawrence da Arábia, restaurado no começo dos anos 80 por uma equipe que contava com vários diretores de nome, entre os quais Martin Scorsese

A comédia no cinema começa a mudar de ares. Enquanto Billy Wilder ( Se Meu Apartamento Falasse - 1960 ) mantinha o costume das comédias sofisticadas, o deboche e as gags típicas das comédias mudas voltavam á tona em filmes como A Pantera Cor de Rosa ( Blake Edwards - 1964 ) , O Incrível Exército de Brancaleone ( Mario Monicelli - 1965 ) , Deu a Louca no Mundo ( 1963 ) e Um Convidade Bem Trapalhão ( Blade Edwards - 1968 ). Em 63, As Aventuras de Tom Jones ganha o Oscar de melhor filme.

Luis Buñuel destaca-se com O Anjo Exterminador ( 1962 ) e o polêmico A Bela da Tarde ( 1967 ) , com Catherine Deneuve no auge da beleza. Em 1960, Fellini alcança o ápice de sua filmografia com a obra-prima A Doce Vida. Na Itália, no entanto, o grande nome da década é Luchino Visconti. São três obras primas nos anos 60: Rocco e Seus Irmãos ( 1960 ), O Leopardo ( 1963 ) e Os Deuses Malditos ( 1969 ). O cinema nos anos 60 é marcado por preocupações sociais.


Os filmes de guerra trocam as mensagens anti-belicistas típicas dos anos 50 pela aventura. Fugindo do Inferno ( 1963 ) com um elenco de astros e Os Doze Condenados ( 1967 ), igualmente repleto de astros, são os dois filmes que se destacam no gênero.


Após fazer nos anos 50 A Dama e o Vagabundo e A Bela Adormecida, os Estúdios Disney contemplam o início de uma fase de pouca produção de qualidade. O estúdio restringe-se a fazer filmes infantis, como Se Meu Fusca Falasse ( 1960 )

É também o fim da era dos grandes musicais. My Fair Lady ( 1964 ), Mary Poppins ( 1964 ) e A Noviça Rebelde ( 1965 ), os dois últimos com Julie Andrews, dão ao gênero os últimos respiros, antes do fim do gênero com os grandes representantes dos anos 70. Mesmo os filmes policiais mudam seu enfoque para o tema social. A Sangue Frio ( 1960 ) retrata um fato real que chocou os Estados Unidos, assim como Uma Rajada de Balas ( 1967 ) de Arthur Penn, o grande filme do gênero naquela década. Alfred Hitchcok faz suas duas últimas obras-primas inquestionáveis: Psicose ( 1960 ) e Os Pássaros ( 1963 ). Extasiado com esse último, François Truffaut declara que o cinema existia para que semelhante filme fosse feito.

O western dá seus últimos respiros no ano de 69. Três filmes marcam a despedida da era de ouro do gênero: Era uma vez no Oeste, de Sergio Leone, Meu Ódio Será Tua Herança, de Sam Peckinpah e Butch Cassidy, de George Roy Hill. Começam a aflorar os westerns-spaghetti na Itália, cujo principal representante é Leone. Os astros que surgem com esse tipo de filme ficam famosos entre o público: Giulianno Gemma, Franco Nero e Clint Eastwood.

Em 1968, Roman Polansky marca época lançando O Bebê de Rosemary. Vizinhos atenciosos nunca mais foram vistos da mesma maneira após o filme. E no mesmo ano Stanley Kubrick superou o próprio cinema lançando 2001 - Uma Odisséia no Espaço, avançado demais para os padrões conservadores da época. Fenômeno de público é Doutor Jivago ( 1965 ), de David Lean, que arrasta multidões aos cinemas para a épica transposição para as telas do romance de Boris Pasternak, prêmio Nobel de Literatura.

Nada marcou a época, no entanto, como Sem Destino ( 1969 ) de Dennis Hooper, o grito inconformista da década, marca de uma revolução social, crítica a uma sociedade conservadora e vulgar.


Criada por Fábio Luis Rockenbach - 2001