O fascínio de um filme que mora na alma e no coração de milhares de cinéfilos no mundo inteiro


Qual o segredo de "Somewhere in Time"? Por que o filme tem tantos fãs - e, se não fãs, por que o filme não tem detratores? O que faz um diretor até certo ponto medíocre como Jeannot Szwarc ( que dirigiu, pasmem, "Supergirl" ) fazer uma obra que atinge, mesmo passados quase vinte anos, uma nova geração de amantes do cinema da mesma maneira que atingiu o público quando lançado? Uma conjunção de fatores. Poderia ser a trilha sonora - ah, essa é lembrada por qualquer amante do cinema. Impossível não recordar o emprego magistral da música de Rachmaninoff ou a criação belíssima de John Barry, qual momento de inspiração poucas vezes igualado. Ouvir tais músicas remete-nos, imediatamente, a um local: Grand Hotel. Poderia ser isso também: as locações. Respira-se o começo do século ( de fato, no livro que originou o filme, "Bid Time Return", explica-se, como no filme, que o próprio local ajudou a tornar possível a fantástica história de amor. ) nas belas paisagens do Hotel. Poderia ser o elenco - mesmo com suas limitações, Cristopher Reeve passa ao público sua devoção e seu amor pela Elise McKenne interpretada por Jane Seymour ( no seu maior momento no cinema - e dona do filme ). Poderia ser a tragédia que marca as grandes histórias de amor, aqui aplacada por um final deveras piegas - mas que vem ao encontro com as esperanças do público, implacavelmente ferido no seu final. Traz-nos um sentimento de paz quando os créditos sobem.

Uma confluência, sim, de fatores, que formou um pequeno clássico. Reeve é Richard Collier,que no começo do filme nos é apresentado comemorando sua primeira peça "Too Much Spring". " O produtor disse que a peça merece a Broadway" diz ele entre amigos, radiante. Uma figura misteriosa observa tudo de longe e surpreende a todos ao aproximar-se do radiante e feliz Collier, que se assusta. Uma senhora idosa, que lhe entrega um relógio e diz apenas quatro palavras antes de virar-se e ir embora: "Come back to me".

Oito anos depois, o mesmo Collier, agora um consagrado escritor, busca inspiração fugindo da cidade grande. ( Na obra original, o escritor sofre de um tumor e está morrendo, o que explicaria melhor muitas das motivações e até o final, mas que não é sequer proposto no filme. Uma pequena falha na transposição da obra para o cinema, admitamos ). O destino não o leva para longe: semsaber porque, talvez tocado pela beleza nostálgica do lugar, ele acaba hospedando-se em Grand Hotel, antigo e belo local à beira mar próximo à sua cidade, sem planos de ficar mais do que uma noite. Seu passeio pelo museu histórico do hotel lhe revela a foto de uma estrela de teatro que hospedou-se ali em 1912 ( nova nota em relação ao livro: a história original passava-se em 1896 e foi modificada para adequar-se ao ano de produção do filme ) - a cena, simples, singela, embalada por aquela música inspirada de John Barry, é uma das mais belas entre todos os filmes românticos do cinema. Richard apaixona-se pelo retrato daquela mulher - Elise McKenna, famosa em sua época por seu talento e sua reclusão misteriosa após hospedar-se naquele mesmo hotel, onde encenou uma de suas mais famosas peças, "O Pequeno Ministro" ( não se engane, a personagem é fictícia ). Obcecado por ela, o escritor pesquisa e acaba concluindo que ele pode ter sido o responsável por sua reclusão - pode ser o homem misterioso com quem ela teria pela única vez na sua vida se envolvido, por mais fantástico que isso pareça. A última foto em vida de Elise revela a Richard a mesma mulher que o entregou o relógio, oito anos antes - por sinal, a noite em que ela morreu.

O filme não se preocupa em mostrar muito como Collier consegue voltar no tempo - o que é mais explicado, já que a linguagem oferece mais recursos, na obra original - e isso é irrelevante. O público já está conquistado e vai sê-lo ainda mais quando ele volta no tempo até 1912, conhece o objeto de sua paixão, conquista-a e envolve-se com ela num cenário paradisíaco que parece um sonho - sempre perseguidos pela sombra implacável do agente teatral de Elise. Capturados por uma overdose de romantismo, beleza e nostalgia, o público não sente o tempo passar. Passam, aqui, no mundo real, os anos e "Em Algum Lugar do Passado" continua conquistando e mantendo um público fiel - com a diferença que, hoje, seu status de clássico moderno permite novas leituras de sua obra. O que era apontado como defeito - a total inverossimilhança de seu argumento, num gênero que raraz vezes permite-se a fuga da realidade ea ficção demasiadas - hoje é tido como a prova do trunfo do filme. Ninguém se importa com o fato daquilo nunca ocorrer. Na verdade, é o que torna tudo ainda mais inesquecível - história de amor como essa o cinema não nos mostra todo dia.

Fábio Rockenbach

Em Algum Lugar do Passado ( Somewhere in Time - 1980 - EUA) Direção de Jeannot Szwarc, com Christopher Reeve, Jane Seymour, Christopher Plummer

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TRILHA SONORA

Somewhere in time
The Old Woman
The Journey Back in time
A Day Together
Rhapsody on a theme of Paganini
Is He the One?
The Man of My Dreams
Return to the Present
Theme from Somewhere in Time

ARTIGOS

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